Promovido pelo TRT-12 (SC), evento tem como um dos objetivos utilizar a aprendizagem como arma no combate ao trabalho infantil.
1º/9/2023 – Nós não sabíamos nem por onde começar…. Mas esse evento mostrou que existe oferta de trabalho para a juventude, as oportunidades estão aí, é só querer”. A afirmação de Fernando Giusti, pai da jovem Lorena, de 16 anos, sintetiza muito do sentimento dos mais de mil participantes do 1º Feirão de Aprendizagem da Justiça do Trabalho, realizado nesta sexta-feira, na Arena Multiuso de São José (SC).
Organizado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (SC), por meio do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem (PCTIEA), o Feirão tem como objetivo promover o encontro entre jovens de 14 a 24 anos ávidos por entrar no mercado de trabalho e empresas interessadas em cumprir a cota prevista na Lei da Aprendizagem. Com uma condição: é obrigatório que o jovem esteja matriculado no ensino fundamental ou médio, evitando assim que ele interrompa seus estudos e seja tragado pela exploração do trabalho infantil.
No caso de Lorena, a busca pelas vagas se torna um pouco mais difícil porque ela tem deficiência auditiva. “Nosso objetivo hoje, aqui, era conhecer o cenário do mercado de aprendizagem, especialmente as vagas disponíveis para pessoas com deficiência. E agora sabemos onde procurar”, diz Fernando, satisfeito.
Treze empresas participaram do Feirão, ofertando em torno de 100 vagas. Além delas, entidades qualificadoras como Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, por exemplo, também marcaram presença, já que a aprendizagem prevê, necessariamente, que o empregador invista na capacitação profissional do jovem.
“Animação e ansiedade”
Muitos participantes foram trazidos por organizações sociais que atuam junto a jovens da periferia, como Instituto Padre Vilson Groh (IVG). É o caso, por exemplo, da venezuelana Albanys Borges, 17 anos. Atendida pelo Programa Pode Crer, uma parceria entre o IVG e a Caixa Econômica Federal, a adolescente foi ao Feirão em busca de trabalhos que envolvam vendas, atendimento ao público ou apoio administrativo.
Ela veio com os pais para o Brasil há três anos, fugindo da crise econômica da Venezuela. Albanys conta que lá trabalhava numa fábrica de tintas e colorantes para cabelos, um “ambiente não muito saudável”. No momento da entrevista, ela estava se inscrevendo para uma vaga na empresa Softplan, gigante do desenvolvimento de softwares.
Albanys foi ao feirão com a amiga Ana Clara Lisboa, também de 17 anos e natural de Florianópolis. Mais tímida, ela está buscando oportunidades nas áreas de tecnologia da informação, desenvolvimento de software e engenharia, todas relacionadas com os cursos que faz no Pode Crer. “Minha expectativa é uma mistura de animação e ansiedade. Caso seja contratada por alguma empresa, será minha primeira experiência profissional”, diz a garota.
O Centro Cultural Escrava Anastácia trouxe 100 jovens do Projeto Rito de Passagem. “Buscamos parcerias com empresas para poder encaminhar nossos jovens para a aprendizagem. Atendemos jovens do Monte Serrat, juntamente com o IVG, de Palhoça e Biguaçu e esperamos firmar contratos para que eles sigam crescendo e se profissionalizando”, explica Joana Régis, coordenadora do Centro.
Abertura
A cerimônia de abertura contou com a participação do coral Tape Mirim, que significa “pequeno caminho” em Tupi-Guarani, composto por 15 integrantes da aldeia Tekoá Itaty, do Morro dos Cavalos (sul do Estado).
Na fala inicial, um dos gestores regionais do PCTIEA, desembargador Narbal Antônio de Mendonça Fileti, agradeceu a participação de todas as entidades e empresas que se juntaram à ação.
“Vocês não imaginam a felicidade que estamos sentindo por realizar esse evento. Nosso propósito é colaborar para que o problema do trabalho infantil seja extinto da nossa sociedade. Investir no futuro desses jovens é investir em nossa sociedade”, declarou.
Apoiador da iniciativa, o prefeito de São José, Orvino Coelho de Ávila, disse ter a certeza de que o Feirão foi o primeiro de muitos. “Ações como essas possuem um alcance social muito maior do que possamos pensar e trazem esperança para que tenhamos um município, um estado e um país melhor”, afirmou.
Resgate de sonhos
Ao final da solenidade, a também gestora regional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem, juíza Maria Beatriz Gubert, prestou uma homenagem ao professor Nelson Matheus, 25 anos, que já foi vítima de trabalho infantil. “Ele é a prova viva de que com a educação é possível resgatar sonhos, o jovem pode sonhar” disse ela.
Nelson foi jovem aprendiz aos 14 anos e hoje auxilia outros jovens a entrar no mercado de trabalho – ele trouxe 40 para o Feirão. “ A aprendizagem me ajudou na questão financeira, na postura profissional e também a me dedicar melhor aos estudos. Comecei a enxergar o mundo de uma forma diferente, e isso me motivou a ajudar outros jovens a seguir esse caminho”, disse.
Além do prefeito de São José, autoridades de diversos órgãos públicos compuseram o dispositivo de honra, como Tribunal de Justiça, Secretaria de Estado de Assistência Social, Prefeituras de Florianópolis e Palhoça, Ministério Público do Trabalho, Ordem dos Advogados do Brasil e Ministério do Trabalho e Emprego. Fiesc e Fetiesc, parceiros no Programa de Combate ao Trabalho Infantil, também mandaram representantes. Pelo TRT-12, desembargadores e juízes que integram o PCTIEA prestigiaram o Feirão.
Fonte: TRT da 12ª Região (SC)
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